O mundo lá fora não é tão fora assim.
No jardim das narinas há pétalas de jasmim
e junto com o azul onde passeiam nuvens
vingam nas retinas árvores verde jade.
Há presença de areia na pele dos artelhos
e chove em nossos cabelos a água da chuva.
Há polpa de frutas no céu da nossa boca
e contato de outras peles contra o tato.
Por isso o abstrato nos assusta: liso abismo
onde sem arrimo de ramos ou remos escorregamos
nus, destituídos de asas barbatanas patas
expulsos do mundo do degredo de nós mesmos.
Astrid Cabral
Do livro: "Saciedade dos Poetas vivos - vol. IV", Blocos, 1993, RJ