As sirenes de polícia multiplicam-se ao inconcebível,
há uma conspiração de sirenes oprimindo
as ruas, todas as ruas
(cidade opressiva desde sua carroça inaugural).
Como fruir os buracos no passeio
se cada passeio é um buraco no peito?
A primeira vez que vi uma sombra humana
a nutrir-se entre os detritos
foi no poema, que bonito.
A segunda – e depois, quantas outras! –,
na dura rua sem filtro.
Transeunte do ar falto,
paralisam-me as sirenes excessivas,
uma legião de sirenes roucas de avisar
que um promissor milênio
quer nascer no lixo.
Jorge Emil
Do livro: "O dia múltpilo", Ed. Bom Texto, 2000, MG