(para Celso Augusto Daniel, no dia de sua morte)
Mataram Celso
madrugada fria
invernico em pleno verão
Mataram Celso
e a cidade de Santo André
a sua cidade
a cidade que o reconhecia
a cidade que o identificava
a cidade que sabia dos seus passos
recolheu a luz do dia vinte de janeiro
do ano da graça de dois mil e dois
e fez-se cinza
e chorou seu morto
como quem perde
um pedaço de si
Bandeiras brancas
lenços brancos
sentimentos em luto
percorrem a praça que foi sua
as ruas que eram suas
o Paço de onde governou
Mataram Celso
com requintes de crueldade
com ânsias de monstro
com método ignóbil
Mataram Celso
como quem manda um recado
como quem intimida pela força
como quem faz calar pela torpeza
Mataram Celso
e a cidade sente-se assassinada
a inteligência violada
o vilipêndio...
Mataram um HOMEM em pleno vôo
— seres rastejantes —
e feriram de morte uma cidade
e envergonharam um país
que está cansado de ver caídos
tantos outros HOMENS e MULHERES e CRIANÇAS
— Vidas em constante sobressalto