Um palco simples, que, sem ser preciso,
ofereceu a todos seu encanto:
comédia e risos, danças, grito, pranto ,
feito num dia, quase de improviso,
sem preparar-se ao Sonho e ao sorriso,
sorriu, sonhou e deles fez seu canto!
Viveu o palco um ciclo de vitórias;
hoje ele velho, ao léu, abandonado,
relembra os tempos áureos do passado,
em que entre mil guardou supremas glórias,
ao dar ao povo um pouco das histórias
que contarei do herói aposentado.
Juntos nos vem à mente a mocidade:
nele encenando cantos de coragens,
ali deixou também suas mensagens,
de Fé, Protesto, Amor e de Verdade...
Relembra o palco, ainda com saudade,
da bela peça, algumas das passagens:
"E o mundo inteiro, cantando,
"liberdade a nascer manhã..."
Recorda cenas do Brasil antigo,
do escravo preso ao mando do feitor:
com ele geme e sofre a mesma dor:
"Trabalha, negro!" E enquanto do inimigo
recebem palco e homem tal castigo,
unem-se as vozes num imenso amor.
Num dos caminhos desta sua andança,
o corpo seu, a se movimentar,
lembra o batuque quente; e no sambar,
retendo a cena ainda na lembrança,
o palco baila, baila a mesma dança
que em tempos idos viu representar:
"Olha o bambo-do-bambo-bambu-bambeiro,
"olha o bambo-do-bambo-bambu-bambá,
"olha o bambo-do-bambo-bambu-bambeiro,
"do-bambo-bambu-bambeiro,
"do-bambo-bambu-bambá..."
A gargalhada em vez do antigo canto,
muda a cena, aos poucos faz-se ouvir:
começa lenta e, rápida, a seguir,
pra terminar num verdadeiro pranto:
"Podes partir, pois não não tens encanto...
E tu partiste... Para quê sorrir?"
Já muita gente o comparou à vida
e nele foi feliz, já muita gente.
Felicidade... velha, meu presente,
tão pequenina, ou mesmo assim perdida ,
mas sempre inteira e sempre tão querida,
que por mais presa, mais independente...
Repousa o palco, folga o seu trabalho,
cenário triste, heróico ou de agonia,
com "novas" cenas para um novo dia...
Palco sonhando um sonho já contado
neste seu pranto, um mundo de passado,
no seu passado, um mundo de poesia...