À minha mãe
Tu foste a inspiração, a sinfonia
Que banharam minh'alma apaixonada.
Se em meus cantos há trechos de harmonia,
Devo-os a tua voz, doce, inspirada.
Tu foste a meiga imagem graciosa
Que inundou de sonhos minha mente.
Pelos sons de tua harpa harmoniosa
Eu da minha afinei o som plangente.
Tu foste o brando fogo sacrossanto
Que da razão o estro me incendeu.
Se em meus versos se encontra algum encanto,
Embora de minh'alma, é todo teu.
Tu foste a pura e cândida harmonia,
Que constante em minh'alma residiu.
Se em meus cantos há terna melodia
A ti pertence, só de ti partiu.
Tu foste, enfim, a musa encantadora
Que suave inspirou minha razão.
Se há estrofes de cor imorredora
São devidas a tua inspiração.
Se aqui não vês o nome teu brilhando,
Em letras cintilantes de ouro e luz,
Vê como em cada estrofe soletrando
A tua imagem plácida transluz.
Aceita pois, imagem de minh'alma,
Os versos que, de longe, te escrevi.
Se um dia eu alcançar da Glória a palma
Pertencerá unicamente a ti.
Corália Míccolis
Publicado em "Brasil Feminino" nº 3, ano 1º, abril de 1932, RJ