Lavo as minhas mãos
Na sua inocência.
Bem-aventurado
Aquele cuja transgressão é perdoada
E cujo pecado é coberto.
Toda ingenuidade foi destruída,
A alma daquele dia se escondeu
Atrás de lágrimas incompreensíveis.
Pra que chorar por alguém que nunca conheci?
Por ser uma dor inventada no escuro,
Que atropelou meus sonhos,
Plantou meus pés no chão
Só pra ouvir sua voz esquisita
Cantar no aparelho de som.
Menina má!
Cílios postiços,
Meias finas, saias justas, Vestidos de seda,
Calcinhas de renda.
Ah!
É isso mesmo que eu quero dizer,
Sua escolha era outra (nunca foi a minha)
Arame no pescoço,
Tatuagem pelo corpo,
Cabeça raspada,
Risadas afinadas,
Palavrões sem culpa.
Anatomia indefinida,
Substantivo feminino,
Só se notava mostrando os seios
Reproduzindo borboletinhas
Agarradas na parede.
De repente,
Sacudiu minha poesia,
Nem sempre delicada,
CÁSSIA, falando gírias,
Disfarçando exageros
No canto abrupto,
Absoluto do rock'n'roll.
A música estremece,
Enquanto eu me calei,
envelheceram os meus ossos,
Por causa dos seus rugidos.
Menina má!
Bate boca, beslicões,
Bicho do mato,
Olhos inchados
Só pra surpreender.
Bem-aventurado,
Aquele a quem o Senhor não imputa maldade,
E em cujo espírito não há engano.
Vai ser difícil me acostumar,
Está tudo diferente,
Um ano acabou, outro começou,
A chuva, enfim, voltou
Inundando plantações.
Quero saber do meu futuro,
Pra onde vou, agora,
É só isso que eu quero.
Mas, queria fazer de conta
Que podia rasgar e queimar o calendário,
Reinventando o dia 29 de Dezembro.
Meu sorriso ainda é invisível,
Bato papo na mesa de um bar
(nunca fui disso),
só pra distrair as idéias.
Toda a minha vida resisti,
Mas confesso:
Sou poeta e pra você
Desejo que meus versos
Sejam eternos.
Eliane Di Santi