cavalo em movimento
de suor todo se banha
as patas batem nas pedras
tiram fogo e se arranham
arrancam do cavaleiro
a alma a estatura
cavalga como voasse
de sentimento mais solto
de mais não sentir o peso
da vida da ferradura
por onde passa o galope
não sobra bicho sem susto
nem morte nem passarinho
nem sombra fria nem vulto
passa por cima das nuvens
cavalo se ultrapassa
salta por cima dos vales
cruza o limite dos muros
de vento mais a galope
o rio o ramo e o raio
que o cavaleiro tal qual
faz do brilho armadura
que o cavaleiro rival
com o animal se mistura
mas cavalgar tem seu preço
tanto de risco ou de custo
quanto mais fora do verso
fora do eixo do mundo
quanto maior o avesso
tanto mais perto o percurso
mais cavalgar é por isso
maior perigo e ventura
maior acontecimento
é cavalgar sem cavalo
sem pressa precisamente
vazia cavalgadura
João Evangelista Rodrigues