A Astrid
De ponto a ponto, a cruz, e em contraponto
à cruz, de um ponto a outro, a cruz conduz
a vida como à de um inseto pronto
a projetar-se no âmago da luz.
De ponto a ponto a cruz tem por confronto
a vida por um fio, e assim reduz
a visão do real a um olhar tonto
a se ocultar em si feito a avestruz.
Um ponto, e a cruz; a cruz, e um ponto em treva
arranca à fala e à dor ais e reclamos,
e da cruz outro canto é que se eleva
a um ponto em luz... Esposa e musa, vamos
crave em meu peito a cruz que a um ponto leva,
que o ponto é voz da cruz que carregamos.
Afonso Felix de Sousa
Do livro: "Chamados e escolhidos" (reunião de poemas), Biblioteca Nacional e Ed. Record, 2001, RJ