Esmaecidos — o ângulo da igreja, a cruz altaneira.
Esmaecidos — o casarão senhorial, os populares, o soldado,
como se fora outro o mundo do outro lado da praça pública.
De súbito ergue-se o açoite, ergue-se com dedos inflamados
que vibram no ar fazendo em volta um vivo colorido.
E há então os escravos que amarrados aguardam o açoite,
e há os já açoitados a lembrarem cadáveres
em transe,
e há o escravo que açoita e um dia foi também
açoitado,
e usa de toda a força porque um dia será de novo açoitado.
E há, antes de tudo, estas negras nádegas que sangram.
Afonso Felix de Sousa
Do livro: "Chamados e escolhidos" (reunião de poemas), Biblioteca Nacional e Ed. Record, 2001, RJ