Quando tu chegastes aqui, todo floresta,
a sala ficou úmida e singela.
Suave era o cheiro de cipreste,
que eu nunca vira antes algo assim.
Brotavam flores de dentro de mim!
Cavalheiro, de onde tu viestes,
tu me trouxestes a bela estrela guia
que faz a noite parecer mais dia
e o dia florescer subitamente.
Não ouço mais gemidos, cantam arcanjos.
Parece que tu tens em ti um anjo
e que esse anjo ilumina a gente.
Angelical, tocastes meus cabelos.
E por instantes, todos os meus pêlos.
Enquanto tu chegavas, eu te queria.
Entre a flora e a fauna da floresta,
uma voz abençoada me dizia
que o éden eras tu e que eu devia
gozar contigo a virgem que me resta.
Eu nunca vi jamais tanta inocência,
que a minha pele rubra, qual carmim,
alguma coisa, é certo, te pedia.
Alguma coisa clara, manifesta.
E tu, brilhando estrelas sobre mim,
me davas o mistério indecifrável
da imaginação e da alquimia
de ser a fada azul da tua festa.
E quando tu te fostes, enfim, floresta,
lancei meus passos nus, incandescentes,
em busca do teu rastro, simplesmente.
Eu percebi que as trilhas se fechavam.
Maldisse a vida. Desejei a morte.
E vi que tu havias me deixado
a sorte de me abrir alguma fresta.
No afã daquela estrela que eu seguia,
compreendi, então, que a noite e o dia
são mais que luz e sombra. São magia!
E eu, essa pequena criatura,
desejei ser tua vã semeadura.
E quis, então, florar dentro de ti
a árvore da vida e da ventura!