Pequenos, barrigudinhos
Olhares tristes, mansinhos
Sorrisos amarelados
Perambulam nas esquinas
Frágeis como passarinhos
Os meninos e as meninas
Filhos das filhas das ruas
Donos dos bancos das praças
Pés-de-vento, pés descalços
Desamados, destemidos
Perseguem-lhes os cães de raça.
Vira-latas das esquinas
Frágeis aves de rapina
Armados de pedra e pau
Os meninos e as meninas
Pastores das alvoradas
Atravessam madrugadas
Sempre em estado de graça
Adormecem ao relento
Parecem donos do tempo
Perseguem-lhes os cães de caça.
Borboletas sob o sol
Vaga-lumes sob a lua
Sem presente e sem porvir
Quebram cercas, pulam muros
Sem saber pra onde ir
Os meninos e as meninas
Entre ódios e branduras
Guerrilheiros de almas puras
Maltrapilhos, quase nus
Têm um coração que clama
Uma alma que reclama
São todos anjos da terra
Essas crianças de luz.