Sentados na sala...
Eu, meus pensamentos e aquele mormaço de uma noite
de verão!
É sábado! E porque hoje é sábado,
recordo Vinícius, o poeta paixão:
“Hoje é sábado, amanhã é domingo”.
A vida vem em ondas, como o mar.
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo, morreu na Cruz para nos salvar.”
...
“Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de
homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado”...
Caro Vinícius de Morais.
Sabe poeta...
Hoje os sábados são outros.
Não são mais aqueles de tempos atrás.
O tempo mudou ou nós que mudamos...
Sabe poeta! O bonde parou...
A vida mudou. Eles não rodam mais não!
A não ser essas tranqueiras de ônibus...
De peruas que atravancam as ruas a preço qualquer.
Quanto aos maridos... Já não são
tão regulares
Há desemprego, desapego... A coisa mudou!
As mulheres são outras... Desatentas! Sedentas!
Sofridas! Paradas! Apenas mais magras!
Ainda reclamam o amor que não têm!
Hoje os casamentos são raros. As mães remoçaram.
Começaram mais cedo a ter seus nenéns!
As crianças, coitadas... Já não brincam
nas ruas!
Vivem sentadas olhando a tevê...
Hoje as grades enfeitam as janelas!
A lua quadrada, às vezes, se vê!
Cadeados e correntes fazem o portão!
O escuro da noite nos enche de medo!
Medo!?...Eu nem sei o porquê?
Medo de quê! Se o dinheiro sumiu!
Medo por quê? Só se for de morrer!
De manhã, logo cedo, não tem mais leiteiro...
Não tem mais padeiro! Verdureiro então!...
Comida virou coisa rara! A vida tá cara!
Há injustiças demais! Tem gente morrendo
por nada!
Por causa de um tênis! Por uma moeda, ou coisas
assim!
Seqüestro e assalto são coisas banais!
Lembra da praia? Desce pra ver!
Já não dá pra se ir! Arrastão,
apagão, confusão!
Tomaram conta de tudo! Já não se tem aonde
ir!
A gasolina tá cara a preço de rir!
Já estive pensando em vender o meu rim!
É seu Moraes! Hoje se vende até rim!...
Órgãos são dados em troca de troco!
Lembra das fábricas! Fecharam de vez!
A Argentina faliu! A Rússia fechou!
Os gringos inventaram um Afeganistão!
Sei lá onde fica! Por aqui sei que não!
E no Brasil!?... Não há jeito mais não!
Até juiz é ladrão! E os tais de políticos!
Se vestem de anjos com alma de cão!
Não de cachorro... Cachorro é animal!
Mas de cão ensinado, vivo, danado!
E hoje é sábado... Amanhã é
domingo!
Mas nem tudo mudou! Muita coisa ficou!
Continuam as festas de gala!
Inda há mulher que apanha e se cala! Sem cio!
Há ainda homens que ficam em bares. Vazios!
Há o mesmo espírito de porco andando nas
ruas!
Há o mesmo vampiro te aguardando morrer!
A vida está nua, dura de se poder agüentar!
Há criança com fome, desesperança
nas portas.
Há homens morrendo na rua com frio!
Sabe poeta!
Hoje é sábado, amanhã é domingo...
Pede cachimbo! É sentar e esperar o dia passar!
Mas pra quê o cachimbo! Se nem mais posso fumar?
Não posso sonhar e voltar a sorrir!
E hoje é sábado... Amanhã é
domingo!
Hoje a coisa é assim... Pelo menos pra mim!
É levantar, esperar... Ver a Casa dos Artistas...
Deitar e dormir!
Assinado:
Zé Brasileiro, um poeta qualquer!