Quem dera eu tivesse
a graça de um amor de fato
desses... não inventados,
com o tamanho exato
de um verso
- que mais é desnecessário -
e com quem de bom grado
eu repartisse a alma
sem cerimônias nem alardes.
Chegasse ele, sorrateiro ou não
mas possuidor de mágicas,
pudesse com amor traduzir
os canteiros do meu coração
e que ficasse, ficasse e ficasse
tão de mansinho
feito o lençol de seda
que desliza minha pele nua
nas longas noites de lua cheia
enquanto sonho acordada.
Quem dera esse amor
que tendo-me tão sua
cuidasse dos meus segredos,
e vendo-me em transparências
- possuidor de minhas chaves
e de todos os meus medos -
ainda assim
fosse a tradução mais fina
da minh'alma gêmea
Quem dera um amor
que fosse assim
do tamanho do verso
que habita em mim
Cissa de Oliveira