Luzia
Trinta e três anos de idade
à toa, incoerente, indecisa,
com sonhos de ser poeta
rabisca traços tortos
em forma de poesia
procura descobrir prazer
em versos, rimas, contos,
que nada lhe rendiam
sermão que lhe pregavam
esquecia-os na gaveta
e trancava
sua vida...
Do lado direito da cama,
sonolenta, carente, sozinha,
desperta tateando sonhos
na busca de encontrar
um caderno,
um lápis,
sem ponta!
mera procura sem retorno,
entrega-se ao abandono,
na alvorada que desperta
se perde
no chuveiro...
Encostada na parede,
entre o vapor
que inebria,
acaricia-se
assanhada como uma gata
no cio
cai de quatro
em si...
Luzia, aos trinta e três,
fêmea perdida,
com o corpo revigorado,
cuida agora d'alma,
doa-se ao caderno,
a insensatez,
esquece a solidão,
lambuza-se com seus
versos indecentes
incoerentes talvez?
não mais escuta
a voz da razão
ri de si mesma
no raiar de mais um dia,
da nova vida
descoberta...
Vez em quando
a caneta tropeça,
o lápis
sem ponta
descartado,
tal qual o amado,
que sem inspiração dorme,
enquanto Luzia
com as pontas
dos dedos,
descobre
um mundo
de prazer
dobrado...
Luzia,
agora recuperada,
não teme mais o papel,
entrega-se a ele,
a si,
e se deixa levar,
expõe seus devaneios,
suas taras,
sua vida,
sem utopias
fortalece renovada,
e sabe,
que ainda é cedo...
É tarde demais
para negar
o prazer,
a loucura do abandono,
a saciez de uma entrega completa
solitária talvez
visivelmente esquecida,
no passado que mofou
entre preconceitos
soterrados...
Raios de luz!
Luzia, trinta e tantos anos de idade,
apaga memórias indesejáveis,
varre medos,
angústias
inércias,
sem sombra de remorsos,
sem recatos disfarçados
toca o colo
reverência
o novo dia...
Luzia,
trinta e tantos anos vividos,
apelidada '' luz do dia''
por ofuscar o brilho do sol
com seu sorriso de alegria,
não sabe viver na escuridão,
prova,
de papel passado
que jamais será tarde
para acordar mulher,
poeta...
Angela Bretas