Quando ela se mirou
no espelho do banheiro
na manhã de sábado
e viu dois grandes olhos,
pensou se, de fato, existia.
Escovou os dentes e
continuou com aquela
impressão de vigília interna,
um aperto sem explicação,
uma culpa por estar viva
sem sentir tanto quanto queria.
Vestiu-se. Foi dar uma volta.
A cidade formigando de gente
e ela dispersa, olhando o vazio,
perdida em si mesma.
Sentiu tudo ao mesmo tempo:
quis gritar, xingar, chorar,
rir até ficar com dor na barriga,
pegar o indiozinho do cartaz e
dar um beijo bem estalado
na testa dele.
Quis ser feliz.