para EManuel Rodrigues e EstreLla de Resende
eu tenho tempo
para o que não quero
não tenho todo o tempo para quem
tem tudo para mim
e não cobra que eu não cobre
quando apenas peço não fique
compre prazeres & títulos
para buscar a solidão
2.
o amor é depois de tudo você
no espelho saindo do buraco
com ninguém sem
nada para segurar
você apaga a luz pra sentir
onde está ou cava mais
e chega à superfície ?
o amor é antes de nada gentil
preluda com
beleza & fama superfácil
se você pegar
para ser exclusivo
uma vez
pegará sempre
não recua , inclua
um coração ao menos
e seja suportavelmente deficiente
na rede de eficiência humana
3.
gentileza é e não
um modo de não roubar
o coração e o bolso
bélicas tribos têm natureza pacífica
tinguis hindus tibetanos
vietnamitas tailandeses
cegos aidéticos velhos
diabéticos grávidas monges
gentileza é se deixar compreender
somos todos diferentes
se somos nada indiferentes
somos todos diferentes iguais.
4.
diferença é imagem
atitude de roqueiro destravado
opinião de político de novas idéias envelhecidas
indiferença é estar na parte
e andar pelas ruas presa
de ataques dos gênios da neomoda
difícil perder quem
anda à vontade sem se importar
que as loiras prefiram os negros
mas casem com brancos
com as vagas mais percorridas do vestibular
com o sol na ferrari do vizinho
Goethe era macrobiótico
Einstein tocava sem violino
poesia é reciclar autores
poesia não é ser único até o fim
com sem trato de exclusividade
mesmo que a dramatis personae
exija heterônimos e esquizofrenia
6.
o tempo me tem
se tenho medo de perder a vida
do menino por causa da rua
eu choro com o guri que rouba e mata
eu sorrio se me acho otária
imito os que vencem
e sabem que não sabem ganhar disputas
nunca conheci um poeta
que perdeu a vida com poesia
poesia é reconhecer ser no outro
o único pão na mesa
alimenta o mundo todo
de palavra é pão fraterno
se tudo inicia num suspiro
dentro do silêncio a palavra
guarda a explosão para o caos.
Marília Kubota/Clodomir Monteiro