Escolher pudesse, pensei. Ah! Eu pensei.
Pensei na soberania da minha vontade.
Pensei na autonomia da minha vontade.
Ah! Eu pensei. Tolo? Fui, sou, serei.
Não escolhi meus pais, nem onde nasci.
Não escolhi a noite finda, que adormeci.
Não escolhi meu sexo, quando nasci.
Não escolhi o último pensar e adormeci.
O amor veio sem avisar e não sei se foi.
Os filhos se foram e não sei se voltarão.
A vida passou rápida, lembranças em vão.
Acreditei na crença como fumaça se foi.
Ah! Eu pensei. Tolo? Fui, sou e serei.
Pensei em meus pais, já se foram lá.
Pensei em meus filhos, já voltaram cá.
Morri há tempos num último suspirar.
Lembranças meus bisnetos têm, há lá.
Seus avós, meus filhos morreram já.
Meu nome nem se lembram cá ou lá.
Minha memória na fotografia lixo está.
Ah! Eu pensei. Tolo? Fui, sou e serei.
Não sei. Compreendi meu papel no céu.
Não tem. Fui vida na espécie humana.
Minha herança genética? Passei e deixei.
Ao todo voltei. Do universo jogado, joguei.
Consciência individual? Sei, sou, serei.
Ah! Eu pensei. Importante? Fui, sou, serei.
Do todo fui parte, sou tudo e sou o todo.
Escolher pudesse, escolhi. Ah! Eu pensei.
Pensei na soberania da vontade. Escolhi
Pensei na autonomia da vontade. Tive.
Ah! Eu pensei. Tolo não? Fui, sou, serei.