a morte aqui não tem pressa
tem sempre o mesmo semblante
de pedra sobe a retina
aqui a morte é só sombras
é o que em si mesma se anima
é o que por dentro se tranca
dentro da noite sem alma
dentro da estrela na lama
é mais certeira que bala
é mais gentil do que dama
é mais sincera se cala
é mais sinistra se canta
não é só de nome seu vulto
é de concreto seu riso
não é só de sangue seu curso
é mais severo seu luto
é só no mundo esta moça
não tem irmão e nem prima
é só no mundo esta coisa
nunca jamais se redime
a morte é sempre elegante
mesmo em missão de rapina
a morte é sempre arrogante
mesmo se morre na esquina
é mais feroz no seu coice
quando com a vida se esgrima
é mais feliz no seu posto
quando o vazio domina
é mais voraz quando lambe
com língua forte e mais fina
devora seu próprio corpo
mais que fogo e gasolina
é mais sereno seu pouso
em tudo que vive se hospeda
em tudo que morre germina
é mais que morta mais seca
mais seca e mais assassina
que a secura da horta
que a agonia da mina
que a doçura da santa
talvez mais seca mais torta
do que o verso na boca
do que a chave na porta
mais seca do que a palavra
esticada na ravina
que a palavra mais oca
mais seca do que o eco
da morte em si dividida
em partes mortas jogadas
no eito após a capina
qual mato seco a morte
surge de novo sem rima
no corpo nu do poeta
nunca termina seu termo
nunca espera seu tempo
nunca suspende esta sina
é sempre morte o sol posto
mais seca mais suja mais cega
a todo momento a morte
é sempre e já definida
morte sempre Severina
mais velha sempre mais viva