Quem viu por aí, a alegria que eu tinha e menino perdi?
Quem achou meu riso fresco e molhado,
minha graça boba, que eu deixei aqui?
Quem ri agora, ri com um riso que já foi meu...
Quem se alegra, usa de uma alegria que se perdeu.
Ladrão, talvez, roubado tenha, tudo de bom que eu possuía.
E avaro, — esperou a nebulosa noite — para furtar-me o dia.
Depois tirou-me o Sol, a cor, o vinho, sugou até me ver vazio,
e de contente pôs-se a rir, vendo-me nu a tiritar de frio.
Porém..., não satisfeito, ainda, de me já ter roubado
tudo,
quis ver-me chorar, sofrer — e eu chorei e sofri, resignado, mudo.
Farto, um dia, supliquei-lhe que me findasse
a vida, já que tudo o mais me tirara.
Ele riu. Riu muito, — com o riso que fora meu.
E respondeu que ainda não terminara.
Eu insisti, roguei, supliquei, argumentei, pedi.
— Não adiantou nada...
Foi por isso, — só por isso, — que eu matei Deus à punhalada.