Da próxima vez que eu nascer
— se houver outra chance —
Quero ser um ser livre e desprezado.
Crescer, viver e morrer
Sem viver ameaçado.
Ser relativamente feio aos olhos do povo;
Ser cúmplice, sem saber, dos garis e do prefeito;
Ver tudo de cima, subir, descer, viajar o tempo todo...
Quero ser um urubu: iguaria indigesta, prato nunca aceito.
— Xô! Passa! Fora, bicho feio!
Vôo. Subo para bem alto, feliz, com uma carniça no bico...
Para outros sou bonito... todo preto... sem defeito...
Sou feliz porque realmente sou perfeito, se homem xinga, eu não
ligo...
Sei que morrem de inveja de mim, puro despeito,
Pelo fato d’eu voar, de viver como eu vivo...