(Mary Columbus)
A estação do Méier ainda dormia
Quando Maria Colombina
Do alto de seus um metro e oitenta
Mais dez de tamanco gritou
Berrou lá de cima da ponte
Ontem fui rainha
Ontem fui rainha
Na madrugada de cinzas
Maria Colombina olhos encerados
Rímel desritimado
Serpentinou umas cervas
E como fetiche repartiu-se
Em confetes para gregos e gregórios
Ontem fui rainha
Ontem fui rainha
Do meio da praça
com duas lâmpadas bêbadas
O coreto bocejou e praguejou um coco de pombo
No tombo pela escadaria degraus abaixo
Daquele monumento mais que carnalvalesco
E vejam só a alça do tubinho apertadinho
Esticado silicone fio de aço
Não agüentou o amasso
E mostrou todo aquele corpinho passista
Ora, ora, qual o quê!
Mary Columbus para os gringos
Ajeitou os brincos de estrasse
Rodopiou numa ginga capoeira
E se foi pela Rua Dias da Cruz
Ontem eu fui rainha
Ontem eu fui rainha
Um bonde parado no tempo a tudo assistia
E João Nogueira cantava:
“Você
sabe eu sou do Méier”.
Sérgio Gerônimo
Do livro: "Agenda Personal 2004", Oficina Editores, 2003, RJ