Eu agora sou mórmom
Em meu rosto barbado
Agora transformado
Na ascendência de uma lâmina
Logo serei rufião
Cavanhaque e cartola
Basta que o bigode cresça
Para a metamorfose
Faço do rosto enclaustrado
Pelo tempo encarquilhado
Jovial, belo, rugas à mostra
Corte rente, lambuzado de Bozzano
No conseguinte pêlos crescem
Numa constante renascença
Parecendo gatafunhos
Preteando minha face
Logo um novo rosto surge
Ao bel prazer do ungido
O que antes falecido
Vira costeleta Presley
Um Dumont sisudo
Até mesmo um sapo barbudo
Basta nunca esmalhar
E assim faço minha face
Sempre um constante disfarce
Pois nunca sei o que sou
Hoje sou mórmom
Amanhã quiçá?
Palaciano, culto, agreste
Ou cabra da peste
Visionário ou conservador
Sou gajo sem divã
Freud não me entenderia
Contudo, muitos enveredam
Em mutirões de vislumbre
Sem nunca crivarem acerto
Apresados sodomizam
Enquanto fito a muxaxar
Sem nada explicar
Aos incautos de vida alheia
É protesto à mesmice?
É birra ou enfezar?
Ou uma forma de inconformar?
Nada contra ou a favor
Ao olhar pelo espelho
Sinto leve o peso dos anos
Infeliz dos imutáveis, estáveis
Intransformáveis
Da mesmice sem razão
Não fraquejo ante a navalha
Da bazófia nada quero
Manejo o cabo com esmero
Para nunca ser igual
Hoje sou mórmom
Amanhã...