Do décimo oitavo andar
(seria melhor da ponte?)
não sei se o que me salva
é a vidraça ou o medo.
- Suicídio é um ato de coragem
ou covardia?
- Depende do ponto de vista:
daqui de cima
precisa ter muita coragem,
enquanto que lá de baixo
basta imaginar que o pobre
tava cheio de dívidas.
O velho sentado no banco
nem suspeita
que a injeção que o espera
dói mais que uma queda no vazio
(pensar no baque é como lembrar da agulha);
um par de pernas grossas
faz com que vacile um pouco:
- Ah! Que morte fria!
Então lanço mais uma vez
o olhar sobre a rua,
onde pessoas passeiam como formigas
(umas, parecem tanajuras).
Além do porto,
as aves sobrevoam o rio,
tranqüilas, como se não houvessem
abismos convidativos
sob seus corpos leves.
Não adianta,
um breve salto
não mudaria o curso da história,
só faria do morto mais um fraco.
Melhor ceder
ao convite do elevador
que nada promete
além de um suave desfecho.