HORA MATINAL

A lagarta enrolou-se
formando um anel verde
com seus pés rombudos.

Paredes rachadas em gretas de ouro
refletem coreográfica dança solar.

Há sombra de flores azuis
em forma de dedos sob a janela.

O sono, enovelado feito nevoeiro,
ultrapassa o telhado
abrindo as comportas do dia.

Pássaros voam, em jatos de sementes:
germina a musicalidade da manhã.

No muro, coberto de heras,
flores bóiam como peixes de luz
nas águas escuras e verdes.

Navegantes do dia, num vai-e-vem,
carregam no olhar parcos silêncios.

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