CANÇÃO SERRANA

Rola cabocla do agreste,
Que em busca de alheia terra,
Deixaste a várzea e vieste
Fazer teu ninho na serra!

Diz-me: onde fica a lagoa
Coberta pelo arrozal?
E o riacho que se escoa
Por entre o canavial?

A graúna é lá que mora,
Lá nasce e morre cantando,
E a garça arisca demora
Na tenra grama pastando.

O branco lírio viceja,
Brinca n’água o paturi,
E pelas moitas voeja
Feiticeiro o colibri.

Terras das verdes campinas,
De aves e flores querida,
Onde rebentam boninas,
Onde as rosas têm mais vida.
 
 

A sericóia se espanta
Se geme o carnaubal,
E a brisa de manso canta
Nas folhas do juremal.

Lá morre a tarde sem pressa
Num banho de luz desfeita,
E quando a noite começa
De pirilampos se enfeita.

Terra de eternos verdores,
Das borboletas de abril,
Onde o sol tem mais fulgores,
Onde maio é mais gentil.

Rola cabocla do agreste
Que o ninho fazer vieste
Longe da várzea feliz!
Dá-me novas das campinas,
Das graúnas, das boninas,
Dos lagos, dos paturis.

                                                    Alípio Bandeira

Do livro: "100 Poetas de Mossoró", Fund. Guimarães Duque, Fund. Vigt-un Rosado, Col. Mossoroense, 2000, RN

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