A BRUXA DAS QUATRO TAÇASA Vida, feiticeira dos destinos,
Deu-me três taças, para que eu bebesse
Dos seus vinhos mais finos.A primeira era fluida, etérea e fria,
Como cavada numa bolha de ar,
E estava cheia de uma luz que ardia
Dentro das almas, como, à noite, o luar...
Por ela se bebia a Volúpia do Céu.A segunda era feita em carne; ansiava
Como um dorido coração na dor...
Seu vinho, sangue ardente como lava,
Queimava as almas num verão de amor...
Por ela se bebia a Volúpia da Terra.A terceira era fogo, ainda mais quente:
Como um sol dardejando e minha mão,
E e estava cheia de um licor fervente
Que me queimava a boca e o coração...
Por ela se bebia a Volúpia do Inferno.Mas havia outra taça, uma cratera,
— Velho crânio por onde, a todo instante,
Ela, a Vida, bebia um vinho que era
Como um néctar de flor doirado e ebriante.Então lhe perguntei: Por que motivo
Não me dás de beber desse hidromel?
Tenho mais sede, ardo num lume vivo
Depois que te esgotei as três taças de fel.E ela me disse: — Um dia, meu amigo,
Ao fim do amor, do sonho e da desgraça,
Na última festa que hás de ter comigo
Terás também do vinho dessa taça:
Por ela é que se bebe a Volúpia da Morte.