SERENATA MEDIEVAL

(AO SOM DE UM ARRABIL DE PRATA)

Rendeira! que fias rendas e toalhas brancas de luar
Com teu fuso de prata e as tuas mãos de neve polar...

Enlaça o fio, torce-o... tece...
Que eu quero ver de débil trama
O verso meigo que enternece
A estrofe rútila que inflama.

Seja de tule, gaze e arminho,
O canto simples que eu fizer
Cantando os gestos de carinho
Que andam nas mãos de uma mulher!

Rendeira! que fias rendas e toalhas brancas de luar
Com teu fuso de prata e as tuas mãos de neve polar...
De renda fina da Bretanha
Seja o soneto; tece o ideal
Com mais leveza do que a aranha
Que tece teias de cristal...

E um sonho, todo, muito fino,
De aurora, riso, rosicler,
Dia no lenço pequenino
Que anda nas mãos de uma mulher!

Rendeira! que fias rendas e toalhas brancas de luar
Com teu fuso de prata e as tuas mãos de neve polar...
Com a luz que vem dos olhos dela,
Faze um véu brano — cor da lua,
Estranho manto de áurea tela
Para vestir minh'alma nua.

De seda tece o meu queixume,
Rendilha o sol que eu quiser...
Que lembre a graça do perfume
Que anda nas mãos dessa mulher!

Theoderick de Almeida

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