DEIXO-TE

Na solidão de domingo
À tarde,
Do xale sobre
A cadeira
De balanço,
Solidão de mar
Manso
E árvores mutiladas.

Sensação de ninho vazio,
De sementeira não irrigada.

Associação de ausência
De ruídos,
Taças de festa
Quebradas,
Pratos deixados
À mesa.

Deixo-te
Da minha ruína
As cicatrizes;
Tecidas nas incertezas.

Dou-te
A Solidão
De  meus ouvidos
Poupados
Por versos
Jamais ditos.

... E aquela aparição
De pegadas
No átrio,
Cacos de ilusão,
Espelhos quebrados.

Deixo-te
À companhia
De meu passado Funesto.
Obra-mestra;
Digna de ti.

Anseia-te

A Hostilidade
De minha
Boca náufraga
E o verbo pestilento
Que persiste.

Queda-te
Com a névoa absoluta
Que me desfruta
Sem compaixão
E a Náusea
Dos ponteiros inexatos
Demarcando
Tua súbita
Evasão.

Sinceramente entrego-te
Meus olhos
De trovador,
... E a cabana abandonada.

Solidão de um
“barco ébrio”
Quando o mar
De ressaca.

Deixo-te
No luto do meu teatro;
Cortinas em ébano,

... E as portas
Por ti
Cerradas.

                                   Maridilce Gonçalves

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