O SUAVE MILAGRE
Adaptação, em versos, de um conto de Eça de Queirós

Numa choça desgarrada,
Orando, clamando ao céu,
Vivia a mais desgraçada
Das mulheres de Israel.

Tinha um filho, um aleijado,
Com sete anos de vida.
Gemia enfermo e mirrado
Numa enxêrga apodrecida.

Alguém lhes contou, um dia,
Qua na Judéia, vivia
Um Rabi doce e bondoso,
Que amava o pobre, o aleijado,
O infeliz, o desgraçado,
E o mísero leproso.
Que o pranto ao triste enxugava

E a todo enfermo curava.
E aos pobres, em multidão,
Um reino Ele prometia
Que em abundância seria
Maior que o de Salomão.
E amava toda criança.

Mas o Rabi, esperança
Do infeliz e do triste,
Onde mora? Onde existe?
Ah! Ninguém o saberia.
Nem o mais rico e importante,
Pois só Lhe via o semblante
Quem sua graça escolhia!...

Então o triste doente
Numa voz fraca, tremente,
Que é mais soluço ou gemido,
Ergue as mãos secas, mirradas,
E pede à mãe desesperada
Que traga o Rabi querido.

— "Oh!, meu filho, o que queres?
A mais pobre das mulheres
Trazer a Jesus aqui?
Tantos o buscam ansiosos,
São ricos, são poderosos,
E não encontram o Rabi...

Pra nós não há esperança",
Diz a mulher à criança,
Abrindo os braços em cruz.
Geme o menino cansado
(A voz é um fio apagado):
— "Eu queria ver Jesus..."

Assim que ele murmurou,
Logo a porta foi-se abrindo...
Devagar, Jesus, sorrindo
Respondeu: "Aqui estou!"e

                                            Magdalena Léa Barbosa Correia
Do livro: "A criança recita" (poesias infanto-juvenis). Ed. Minerva, Ltda, 4ª ed., 1965, RJ

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