agora faz frio no meu verso
e as rimas se perdem em meio as geleiras
de metáforas e sonhos
agora minha boca resseca
de tanto declamar o sopro úmido
dos poetas de neve que caem sobre a lua
o frio é maior do que a inspiração
soterrada pela avalanche de solidão
que penetra na almas dos poetas de vento
e se faz gelo
e se faz água
e se faz lama
e se faz nada
agora a poesia resiste ao frio congelante
da sua lembrança
branca - como um fractal de neve
branca - como uma nuvem altíssima
branca - como uma geleira
branca - como uma paz que agora dorme
na solidão do gelo da distancia
agora meu verso rebelde
e quente feito sangue
derrete como um sol
as geleiras
do pensamento e da linguagem
e brinca
de roda com as palavras
com as letras
com os versos
com os sons
e brinca
de esconde-esconde
com os mistérios
escondidos nos segredos do frio
nos fazendo
amantes do quente...
E Empedocles retorna do Etna
intacto como um verso!
agora faz frio
em algum lugar do mundo
onde a poesia ainda está
congelada pelo medo
do calor humano e trágico e único
serei um sol para as geleiras tímidas?
serei uma brasa para as neves solitárias?
serei um raio para as arvores congeladas?
serei um fogo para as mulheres apaixonadas?
agora o frio penetra o seu corpo
mas a minha poesia penetra a sua alma
agora o frio dorme sobre a sua roupa
enquanto o meu verso habita a sua mente
agora o frio invade os seus sonhos
e a minha poesia é a sua única realidade...