À noite
quando o mundo deste lado da Terra está dormindo
às vezes acordo para meditar
Fico pensando na vida e na morte
depois paro para ouvir o silêncio noturno
O silêncio noturno é cheio de sons surdos
e de vibrações tênues
Faço o contraste com o dia
O dia é da competição para ver quem é mais
forte
São uns vencendo e outros perdendo
A noite é dos amantes e das reconciliações
É a noite que os casais que brigaram de dia
se reencontram e voltam a se amar
Por que a noite nos dá a capacidade de perdoar?
Será que não há alguma sabedoria na escuridão?
Será que a luz do dia nos faz querer brilhar mais do que nós
mesmos
não importando que, para tanto, seja necessário pisar?
São perguntas que faço ouvindo os sons silenciosos da
noite!
Quando chove na noite ela fica mais viva
Quando se ouve o latido de um cão noctívago seu latido
reverbera mais forte. Pois o silêncio da noite faz os
sons se elevarem acima de si próprios. Quando vou até
a
janela e admiro a escuridão da noite, os contrastes se
parecem como se fossem cores, só que cores mais sutis
e, assim, como tudo que é dito de forma sutil é mais
belo, as suaves nuances dos contrastes da noite colorem
mais do que as cores gritantes do dia.
Me responda rápido?
Se é possível encontrar beleza na escuridão
não seria possível encontrar beleza em tudo?
A beleza não seria apenas uma maneira de ver as coisas?
Foram estes os pensamentos que tive...
e como me deixaram intrigado!
Tem dias e noites que vejo beleza em tudo
enquanto, em outros, tudo me parece sem graça.
Como explicar esta flutuação do espírito?
Tento gravar bem na memória o que sinto nos dias belos
para reproduzir nos dias tristes os mesmos sentimentos
Talvez saber viver seja apenas isto
Saber transformar os dias tristes em belos
e os belos dias em dias inesquecíveis
Cada dia pode ser inesquecível
Basta transformá-lo numa coisa especial
Um dia eu via a noite de dela extraí a beleza mais rara
Aos meus olhos a beleza da noite parecia
a beleza dos poemas se apresentando
na sua forma mais misteriosa
e há beleza no mistério
Se pude ver a beleza na noite
e do breu vislumbrar a luz
não poderia eu extrair a leveza do peso?
das mentiras extrair verdades?
Não poderia eu arrancar o bem de dentro do próprio
mal?
da essência das doenças extrair a cura assim como o fizeram
aqueles que
inventaram as vacinas?
Se da escuridão fiz brotar a claridade não poderia eu
fazer dos ódios
desabrochar amores?
E das armas, ao invés de balas e mortes, fazer dispararem
flores e vidas?
São perguntas que continuo me fazendo e estas perguntas
me fazem ver o mundo de maneira diferente
E as belezas que nele vejo
são as respostas a estas perguntas