Se assim for, se esse é o quarto
Que procuras, digo-te que é você
Tua própria suite, a tua parede,
O teu chão, o teu descanso.
E nesse você travestido de aposento
Há cores,sim, ainda que mesmo
Querendo não as vejas.
Há uma cama longa e larga onde
Podes espreguiçar as tuas dores,
Mesmo que teus olhos não as vejam.
E há também uma bengala, vontade
De viver chamada, que levanta os caídos,
Que calcina com antídotos e olhares
Mornos as doenças mais voláteis.
Você é um hotel com quartos com
Paredes pirilampos sinfonías vazíos
Becos sem saída e densas alegrías,
Ainda que hoje o desconheças, ou
O renegues, ou a aceitá-lo te recuses.
Mesmo assim, e se insistires,
Posso construir um quarto
Em que as paredes só desde fora
Sejam vistas, onde o tapete
Seja uma caravana de beduínos
Atravessando os teus desertos
Disfarçados de camelos.
E na parede pendurado viverá
Um espelho que mostre de dentro
Para fora o quanto é profunda
A tua sensível horizontalidade.
E haverá no quarto um verdugo
Encarregado de executar as sentenças
Que tua perplexidade pronuncíe.
E disporás também de uma janela
Que te instigará a desenhar em verso
As paisagens que a tua imaginação
Esculpa sem limites.
Aos pés da cama encontrarás
Algumas alegrías bem treinadas
Que passarão as horas do teu día
Penteando submissas o teu ego
E acariciando felizes teus cabelos.
Contratarei um exército composto
De milhares de formigas mercenárias,
Que ordeiramente subirão pela parede
Para entreter-te os olhos e hipnotizar
A solidão, que astuta espreita.
E deixarei sob o travesseiro, como
Se alí estivessem por acaso, um par
De afagos, pelas dúvidas que a angústia
Noturna invada o teu descanso.
No lugar de honra estará o Amor,
Que disfarçado de poema e
Escondido entre as páginas
Em branco do livro que dia-a-dia
A tua memória reescreve,
Tocará uma música serena, feita
De carícias verdadeiras, de afagos
Esperados, de sensações paridas
Nesse território indefínivel
que
Habita às margens do bom senso,
Lindando com a Felicidade
Pelo flanco esquerdo, e com o medo
De perdé-la, pelos outros.
Precisarei saber, para melhor dispor
Os últimos detalhes, qual cor
De céu preferes; se desejas que haja
Sol na lámpada do quarto, ou
Estrelas peduradas nos espelhos.
Precisarei saber se quererás o chão
Recoberto de tristezas para assim
Poder pisá-las com vontade, ou que
Chão não haja, permitindo-te
Sobrevoar como rainha os teus desejos.
E desejarás que no ar impere a paz
eterna
Ou preferirás uma guerra sem quartel
Pendurada nos cabides?
Será, como vês, se quiseres,
Um quarto onde estar nua
Ainda que vestida, onde
Os olhares de frente
Serão incentivados, onde
Sonhar será recomendado,
Onde os pés cansados
Serão recompensados, e
Onde o rumo perdido
Encontrará finalmente
O teu caminho.
(Se for esse o quarto que desejas
Deverás comunicá-lo com urgência
Pois as reservas vencem sem delongas
Quando as primeiras lágrimas surgirem
E sem pedir licença se instalarem
No firmamento umedecido dos teus olhos).