A DISCRIÇÃO DO ARTÍFICE
(Inspirado no conto do livro "Intermédio Logosófico",
de Raumsol).
Tinha um escultor por costume,
quebrar pedras noite e dia
e aos que por ali passavam
que indagavam, respondia:
- corto essas pedras porque
nada tanto me entretém
que contar os pedacinhos.
Isso muito me convém.
Passado, então, algum tempo
a todos surpreendeu,
o laborioso artífice.
Vejam só o que aconteceu!
Diante de olhos assombrados
fez que o véu decerrassem,
de grande e formosa estátua,
pra que eles a admirassem.
E assim falou o escultor:
- se tivesse anunciado
o que fazer me propunha
teria algo realizado?
Com conselhos dispersivos
teriam me importunado
e certamente o trabalho
não teria terminado.
E deste relato surge
a real necessidade
de não expor os projetos.
Isso é uma realidade.
Deve ser bem protegido,
todo projeto valioso
com o véu da discrição,
dos olhos do curioso.
É preferível mostrar
a real fecundidade
do nascente pensamento
com fatos e sem alarde.
Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas
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