Debruço-me na janela. Rabisco um poeminha numa folha de papel.
Tanto me
fascinou a liberdade que deixei meu poema livre. Larguei-o e, de tão
leve,
voou.
Voa, folha solitária,
transmite ao mundo todo o meu amor ainda sem dono
Anuncia, invada o céu com a notícia:
Penetre a intimidade dos mistérios,
cruze os mares, os dedos dos amigos.
Vá adiante, além da minha visão.
Ao sabor e olhar do vento,
sobrevoe rios e riachos.
Faça companhia aos pássaros,
desfrute.
Procure para mim
o lugar dos meus sonhos,
já que estou presa na moldura dessa janela.
Veja o sol nascendo
E as estrelas, como outros cristais,
formando os símbolos da maestria.
Provoque sorrisos;
enxugue lágrimas.
Voa, papel inquieto e atrevido,
silencie a voz da razão.
Não precisamos de nenhuma.
Rompa o cordão da amargura
O nó cego de tristeza,
só não cesse sua busca heróica.
Por águas aflitas,
por chamas súbitas,
sim.
Decifre a madrugada
para entender o amanhecer.
Vai, nuvem de poucas letras,
e, assim que chegar,
me avise cantando um vento bem baixinho.
Quando achar o meu canto,
o que tanto desejo encontrar.