Um seixo turva a superfície quieta
lançado por alguém. A água revolta
em círculos concêntricos se aquieta,
as vibrações se desfazendo em volta.
Depois, de novo, o lado azul profundo
serena como espelho, sem receio;
ninguém suspeitaria que, no fundo,
pesa tanto uma pedra no seu seio!
Assim na vida, muita vez a sorte
lança a pedra pesada de um desgosto
e guardamos a dor até a morte
nada transparecendo em nosso rosto.
Um momento revoltos, em tortura,
nós choramos talvez... Depois, mais nada.
A aparência é de calma e de ventura
na existência de novo sossegada.
E ninguém pensa que a calma fingida
oculta um desespero, uma emoção,
que atravessamos toda a nossa vida
levando a pedra em nosso coração.