Ela cantou lá fora o dia inteiro — veio
hoje à tarde morrer aqui na minha mesa. . .
— meu olhar que ainda há pouco estava alegre e cheio
de luz, turvou-se agora em singular tristeza. . .
Ouço (e já ouvir não posso), o estríduo
gorjeio
que é a marcha funeral da tarde azul-turquesa,
— sobre a folha do bloco onde ela está, releio
um verso que hoje fiz ao sol e à natureza!
Ela andava lá fora, era a boêmia do céu!
Mas na hora de morrer, trocou o azul de anil
pela folha de um simples bloco de papel . . .
Na tristeza em que estou, ao menos me conforta
saber, que aquele poema que escrevi, serviu
para embalar o sono da cigarra morta!