1
O cisne se faz amplo
para o vôo.
Alviplana
sobre os nossos ombros desolados.
Não uma ave:
imagem
do que os deuses não nos concedem.
Sua leveza ainda mais afunda
nossos pés na areia, na pedra.
Mas quem pode dizer da chaga
na sua carne? do seu
cansaço? da fuga? do lago
perdido?
do
ímpeto
na medula do cisne?
Sua força e lindeza
ricas
de nossa pobreza.
2
A paisagem é bela em nossos
olhos, pruificada
pelos truques da
distância
Jaz a hiena
desfeita em névoa azul;
e não há garras
contra o salto da corça; e não há
a insídia da serpente, nem a mira
telescópica do rifle.
Não sentimos
o tigre em nosso rastro; o pântano
nem nos ocorre; e o medo
é lenda imemorial, não
a arrancada súbita do coelho
por entre cogumelos e ráizes.
Como nuvem
é a selva distante.
Como um quadro
na sala de jantar.
3
De mim
que podes conhecer?
Se muito a roupa que visto, a cor
da minha pele, a inclinação
do meu corpo ao caminhar.
Nada te revelei do cão trifauce
que partilha comigo, as horas mortas,
do meu traje de orfeu, dos frêmitos
argonáuticos.
Ah, todo coração
é ultramarino
e fundo nos quardamos: ilhas eldoradas.
No entanto repousas
em sossego
nos meus braços.