Maldito sejas tu que eu encontrei na vida,
como se não bastasse a tormenta sofrida
sem culpa e sem perdão;
por tudo o que eu quis ser e que alcançar não pude;
por toda essa amargura e toda essa inquietude
da minha solidão.
Maldito sejas tu, pelas noites sem sono,
pelos dias sem sol e as horas de abandono,
de tristezas sem fim...
Pelo amor que esbanjei, generosa, às mãos-cheias,
e apenas vi florir pelas searas alheias
e nunca para mim.
Pelos passos que dei sem rumo, desnorteada,
nas trevas tateando ... (é sempre escura a estrada,
quando a gente vai só).
Por toda essa extensão de enganos percorrida,
pela enseada de paz para sempre perdida
e transformada em pó...
Maldito sejas tu, que por capricho, um dia,
do meu ser transformaste a serena harmonia
num rugir de paixão.
Maldito sejas tu! Teu riso, tua boca!
Para cuja mentira e hipocrisia é pouca`
a minha malidção.
Maldito sejas tu, que infiltraste em meu sangue
todo o calor macio, aveludado e langue
da tua voz sem par.
Por tudo o que eu perdi por te haver encontrado,
pelo tempo tão longo e tão triste passado,
em silêncio a chorar...
Maldito sejas tu... Mas, se um dia voltasses,
e o remorso no olhar, e lágrimas nas faces,
me pedisses perdão,
eu, na porta entreaberta e mal iluminada
sem nada te dizer, sem perguntar-te nada,
te estenderia a mão.