Caem as muralhas da minha fortaleza
e eu me sinto nu, triste como a solidão dos violinos.
O vento lambe a minha cara como um cachorro vira-lata
e eu agradeço a Deus por tanta realidade,
mesmo que me sinta um ser infinitamente inferior.
Ouço o opressivo silêncio das manhãs de Natal,
quando até os velhos e as crianças acordam tarde e de
ressaca.
Sou uma espécie em extinção, uma vítima
das minhas próprias perfeições.
Tudo dói em mim, mas eu me sentiria um homem livre se não
tivesse
que cumprimentar meu assassino, que teima em vestir o mesmo luto que
eu,
quando na verdade devia estar destilando a sua culpa em insones noites
de cocaína.
O futuro parece distante como a terra prometida
e eu tenho medo de esquecer a existência de ambos
enquanto faço o inventário do que restou desse adeus,
desse destino desenhado com pedras nas polpas do coração,
que me deixou apenas comigo mesmo e a imensidão oceânica
da minha cama de solteiro.