penso estar a salvo do que fui
mudo a pele agito os sentidos
e cada coisa permanece tatuada
na pele do que em mim muda nunca
o futuro se repete não me larga
fica no gesto não se desprende
e habita o corpo num pulsar
que lhe desvenda permanência
penso penso sim estar a salvo
do que fera me seduz um dia ser
porém o que está a salvo talvez
seja o que mais corre perigo
Do livro: "O amor pelas palavras", Edições Trote, 1982, RJ