Olho para você
naquele instante aprisionado entre papel e vidro,
como um pastor ou um profeta
de sandálias rotas, empoeiradas,
descansando sobre seu cajado.
Parece irreal,
fugaz,
como a brisa de outono
que carrega minhas lembranças
e as espalha
entre as flores do cafezal.
Penso que te sonhei...
olho de novo, e de novo, e de novo
no entanto...
Você permanece lá,
imóvel
com um quase sorriso nos lábios
e uma leve tristeza nos olhos
perscrutadores de estrelhas e brilhos.
Do livro: "Mulheres de Papel", Blocos, 1993, RJ