Este inútil fingir... este temor... a ardente
vigilância a evitar que me descubra o mundo...
Esta ânsia de exaurir a trágica semente,
para matar um germe, um germe assim fecundo...
Esta inglória mentira em que me anulo e afundo,
eu própria a repudiar a alvorada latente...
E o amor, o sempre amor, enraizado, profundo,
a crescer, a crescer inexoravelmente...
Ninguém dele há-de ouvir, que o meu silêncio é
largo...
Por isto este soneto a sós, que escrevo e amargo,
este grito que um dia há-de chegar a ti...
Negligente o lerás... mas súbito, entendendo,
hás-de em prantos chegar a este final tremendo:
— Foi tudo o que ela amou... foi tudo o que eu perdi!
Do livro: "Possuída", Livraria São José, 1964, RJ