Diremos
que nossos corações se extraviaram,
que tentamos em vão achar o nódulo
onde o erro se aclara,
que não sabemos mais como dormir
sob o canto, o peso em flor dos limoeiros.
E diremos
que quiséramos vir por outra coisa,
por alguém
e que tudo o que achamos foi um cântaro
onde a imagem — a nossa — nos sufoca,
se perde, se confunde
com o olhar esgotado que nos coube.
E circuvoltaremos
o sono, a vela ébria da doçura,
passando, sem tocá-lo,
por aquele jardim de cujas noites
nunca mais nossos olhos voltariam.
Vós, no entanto, que o vistes
depois que a flauta da visão se esfuma,
acercai-vos, dizei-nos
o que querem de nós os nossos bruscos corações
que a vaga e o vento faz tão doces,
que pedidos nos fazem, que perguntas
na oscilação de nossos jogos sem proveito,
nas calmarias como nas tormentas,
na febre, na indiferença, enquanto, outros,
lançamos âncora, levantamos âncora,
esvaziamos e enchemos de novo
nossos tonéis, nossas palavras,
nossos espelhos, nossos cálculos nossos
pálpebras? Aonde partem nossos corações?
O que estavam dizendo, procurando
dizer, quando a distância ia apagando
o desenho das nuvens sobre o cais
— ah, e em vão nos curávamos tentando
seguir, reconhecer, mas já sem força
de ajudar, decifrar ou responder...
Do livro: "Le vrai Le vain - um lume de exílio",
Actuels, 1971, Paris