V
Numa época
em que a cultura não é mais
nem monarcas nem tetrarcas
nem mocinhos de gravatas
borboletas
a citar Pound às alpercatas
gran-fininhas, franfininhas
do erudito espiroqueta,
existe sempre uma hora
em que devemos dizer:
"basta meu velho, o seu rei está nu!
basta de prosas enredadas
para justificar-se, justificar-se, justificar-se
de seus pulinhos e de suas reviravoltas
para lá e para cá, para o blim e para o blão
para o bom, sempre para o bom
lado da primeira página...
Literatura não é isto não.
Flor orgânica dos ventos
no mais fundo sentimento,
é mais a verde lava da vida
do que anúncios de sabãou
ou o desfiar das margaridas
— me quer sim, ou me quer não —
em frente aos olhos da gente
que tem o poder na mão".