Sol que alegra e me conforta
na minha casa entra, belo,
sonho um sonho, uma promessa,
tudo o que vem à cabeça...
Tine e retine o martelo
bato sola! Bato sola!
Desde que ela veio, deu-se
a morte da minha calma.
Entrou... Sorriu-me... Fitou-me
flor de carne, flor sem nome,
meu coração dela encheu-se,
encheu-se dela minha alma.
Disse-me ela: "Sapateiro
vais fazer-me um sapatinho.
Ë mostrou-me o pé. Corando
respondi-lhe: "Estais brincando?
Ide ali no meu vizinho,
meu vizinho é joalheiro."
"Calçá-la com sola e couro
é crime que não apoia
minha alma que anda de rojo.
Jóias guardam-se no estojo...
Calçai um sapato de ouro
no vosso pé que é uma jóia".
Ai! Agora sofro e peno
de inveja do meu vizinho...
Pedem-e todos que a esqueça,
mas não me sai da cabeça
a mulher do pé pequeno
que queria um sapatinho.
Desditoso e contrafeito,
eu, numa ânsia me debato:
se ela voltar, como um louco,
nem que morra dentro em pouco,
tiro o coração do peito
e dele faço um sapato...
Amo-a! como voltar custa
aquela que me sonsola!
Entra um freguês. Corro a vê-lo.
Nada! E o coração se assusta
e bate como o martelo
bate sola.
Menotti del Picchia