ZINGARELLA
Certa noite, na Itália, quando eu vinha
para meu quarto, achei-a junto à porta;
Era tão bela mas tão pobrezinha.
De fome e frio estava quase morta!
Ela pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto:
— Buena sera, signorina!
— Buena sera, giovanotto!
Ofereci-lhe o quarto de estudante,
de minha estreita cama fiz a sua,
e enquanto ela dormia palpitante
eu vagava sem teto, pela rua.
De manhã, voltando à casa,
perguntei o nome dela:
— Como te chiami ragazza?
— Io me chiamo Zingarella.
Depois... Eu tinha 23 janeiros
ela contava 15 primaveras.
Eram tão juntos nossos travesseiros...
Veio a paixão... Amamo-nos deveras...
Foi o quadro mais risonho
desta vida fugidia.
— Zingarella, séi mio sogno
— E tu, séi la vita mia.
Mas um dia, ao voltar do meu estudo,
cheio de máguas, de ânsias e de frio,
não encontrei seus olhos de veludo:
o quarto estava gélido e vazio.
Grito embalde o nome dela
numa tristeza infinita:
— Dove séi, ó Zingarella?
— Dove séi, ó mia vita?
E a minha vida prosseguiu inglória.
Fiz coisas de rapaz, não me envergonho
de recordar ainda aquela história,
quase desvanecida como um sonho.
Ela pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto:
— Buena sera, signorina!
— Buena sera, giovanotto!
«
Voltar