Seu dotô eu num lhe engano,
Eu tenho mais de trinta ano
Que moro neste lugá,
Dou-lhe a palavra de home,
Se num qué morrê de fome,
Cá vivê na capitá...
Aqui no nosso Sertão
Essa história de injeção
O pessoá tem receio...
E vosmicê cuma é novo
E num cunhece esse povo,
Eu vou lhe dá um conseio...
Quando o dotô receitá
Nun mande a roupa tirá,
Pruque nossa gente acha
Qui essas coisa é muito feia...
E o cabra morre na peia
Mas a ropa, ele num baxa!
A coisa aqui é isquisita,
O povo num aquerdita
Im receita de dotô...
Já é custume da gente,
Quando arguém está duente
Chamá logo o rezadô...
Se o cabra tá muribundo
Manda chamá Zé Reimundo
Qui é resadô diligente
E a todo mundo socorre.
Quando reza, ou o cabra morre
Ou fica bom de repente!
Cum fé no coração
E tres gaio de pinhão
Tres vez rezano incruzado,
Lhe agaranto, Zé Reimundo
Dexa quarqué muribundo
Bonzinho, forte e corado.
Voismicê que tá me ouvino
Se pensa que eu tô mentino,
Pode crê que tá inganado!
Pra qui o sinhô se convença,
Vô lhe contá as duença
Que o resadô tem curado:
Panariça e sete côro,
Ferida braba e friera,
Murdidura de bisoro,
O má de izipra e cocêra,
E tudo quanto é ferida,
Dô de ispinela caída,
Garganta inchada e papera.
Dô de dente, istalicido,
Dô nas costa, istambo inchado,
Dô de cabeça e zumbido,
Ança, ingasgo, dô do lado,
Quarqué ispéce de dô,
Zé Reimundo resadô
Muita gente tem curado!...
Cum ele num tem gogó.
Essa história de agunia,
Quebrando, oiado, três-só,
Injôo, manicunia,
Sarna, bixeira e sarampo,
Ligero qui nem relampo,
Cura da noite pru dia...
Murdida de cacavé,
Jararaca e salamandra,
O sujeito teno fé,
Essas coisa num lhe ispanta!
Zé Reimundo bota a mão,
E na merma ocasião
O duente se alevanta!...
Purisso que o pessuá
Só precura Zé Reimundo!
Ele aqui, nesse lugá,
É premero, sem segundo...
Inquanto houvé resadô
Ninguém liga pra dotô,
Nem qui venha do otro mundo.
Pois o próprio Zé Reimundo,
No tempo que aqui chegô,
Mostrava pra todo mundo
Seu diproma de dotô...
E quaje morre de fome!
precisô mudá de nome
E trená pra resadô!...