Se eu precisasse de pão,
Você me teria dado.
Se fosse de uma oração,
Você teria rezado.
Se fosse de maldição,
teria amaldiçoado
aquele que o coração
me tivesse magoado.
Se eu precisasse de ouro,
Você teria tirado
do seu trabalho um tesouro,
e me teria ofertado.
Mas, o pão de cada dia
eu tenho, graças a Deus.
E à Santa Virgem Maria
envio orações aos céus.
Maldição? Que fantasia!
Não há inimigos meus!
E — sabe? — eu não gostaria
de tesouros, nem dos seus.
É que preciso de tudo,
e não preciso de nada...
Preciso — vê? não o iludo —
preciso de ser amada
por Você, que, em minha vida,
representa mais que pão:
alguma coisa querida,
sublime como a oração!
Esperança não perdida
e um pouco de maldição...
Riqueza inadquirida,
na palma de minha mão...
Preciso de amor, querido.
Mas, por maior caridade
que Você possa ter tido,
pra minha infelicidade,
o amor é misterioso,
não se sabe de onde vem.
E o homem mais caridoso
não o pode dar a ninguém.
Vive nalma de quem ama,
pra quem não sabe que o tem.
Dá vida, com sua chama,
e, às vezes, mata, também...
Por isso é que não mendigo
o que Você não dará.
Eu sei que amor, meu Amigo,
é esmola que não se dá...
Do livro: "A esmola que não se dá", Irmãos
Pongetti Editores, 1963, RJ