Deste lado da porta é noite, já.
Os homens adormecem seus cuidados.
Pelos campos desertos, os arados
pesam, negros e inúteis, ao luar.
Deste lado da porta ruge o mar
dentro da noite. Os pássaros cansados
pouseram nos meus olhos tresnoitados
e dormem ao relento, sem cuidar
que do outro lado desta porta é dia
e que somente um sopro bastaria
para esta porta abrir-se do outro lado.
Então, de súbito, amanheceria
e o que em sonho repousa, deste lado,
do outro lado da porta acordaria.
Do livro: "Os dias e as noites", Clima, 1979, RN