VI
por cima de várias montanhas
e raças e feias construções
passei e refiz forças e energias
para novamente entregar-me
e reconstruir e refazer
amorosamente
a mesma etapa
X
para cada ser de asas
que invento
com pernas e penas
e bicos e bocas
há um sol
(estrela luminosa)
a iluminar-lhes contradições
XXIV
água fria molha rosto (meu)
água fia molha rosto (teu)
molhado nosso rosto (apenas um)
identificados aquosos fluímos
espaço ocupamos fluidos
não andamos: caímos
XXVII
as laranjas estão imóveis nos pratos
incomíveis pois mortos os hóspedes
permanecem estáticas as frutas
serenas na expectativa mediana da fome
será necessário que as coma alguém
pois do contrário o ciclo não se terá completado
—
maduras frutas, mas, pergunta-se, vírgula, para quem?
XXVIII
comeremos os frutos verdes
porque mais verde sestamos nós
porque não fôssemos verdes
não os comeríamos jamais
os verdes frutos não permanecerão nos ramos
porque se maduros outros os comerão (não nós)
por isso padeceremos com o gosto amargo
mas comeremos os verdes frutos (nós)
e ninguém mais saberá quão saborosos seriam
porque nós comemos os frutos verdes
verdes tão verdes que seriam intragáveis
não fôssemos famintos e verdes ainda
Do livro: "Paisagem móvel", Ed. Movimento, 1973,
RS